Que enorme dificuldade eu encontraria para arrumar um papel nos dias de hoje! Não há mais espaço para durões que não tenham músculos. A agilidade verbal foi substituída pela habilidade com armas e chutes. Para trabalhar, eu teria que malhar muito ou cair em comédias caricatas, como fez Robert De Niro. Clint Eastwood ainda resiste como o homem insensível, mas que no fundo tem sentimentos, porque dirige seus próprios filmes. Outra alternativa seria interpretar um super-herói em alguma adaptação de história em quadrinhos famosa. Mas não me vejo dentro de um uniforme de lycra colado no corpo.
Veja: Casablanca, nos dias de hoje, provavelmente não me teria no elenco. As escolhas do estúdio seriam outras. Rick seria interpretado por Vin Diesel (que, por sinal, é um ator que tem lá os seus recursos: os óculos, por exemplo) e Sam, por Wesley Snipes. Os dois formariam uma dupla improvável, de personalidades antagônicas. Até imagino a cena: a festa está bombando no Rick’s Café. Sam (Wesley) está nas pick-ups tocando As Time Goes By, versão pista de dança. As, as, as, time, time, time goooooooes by, Uhu! Rick (Vin) entra com a cara fechada e caminha até Sam para tomar-lhe satisfação.
Rick:
– What a f., man?
Então, ele olha para o lado e seus olhos se encontram com o de Ilsa, interpretada por qualquer desconhecida bonitinha. Já reparou como nos filme de ação não tem atriz muito famosa?
Rick para Ilsa:
– O que faz você aqui no meu café, em Casablanca? Você me abandonou em Paris, sem motivo aparente. Nós estávamos apaixonados! Eu vim para Casablanca para tentar esquecê-la. Tornei-me um homem duro para não dar bandeira dos meus sentimentos. E agora você aparece novamente aqui!
Nos filmes de hoje, tudo precisa ser bem explicado pelos personagens. Para compensar esse momento enorme de dramaturgia verbal, uma bomba explode no Café. De dentro da fumaça, surgem os nazistas, que entram dando tiros de metralhadora. Os frequentadores se atiram no chão. Rick protege Ilsa atrás de si e grita para Sam.
Rick:
– Toca o horror outra vez, Sam.
Sam retira, de dentro das pick-ups, uma enorme arma e diz:
– Tantos bares, em tantas cidades em todo o mundo, e eles tinham que entrar logo no nosso. Agora vão se arrepender!
Enquanto duelam com os alemães, Rick e Ilsa discutem a relação como se não estivessem tentando salvar suas vidas, dando a mínima importância para os tiros e agressões que recebem. É o momento cômico do filme.
Iria me restar ainda os papéis de homem inseguro, compreensivo, que manda flores e expõe suas fraquezas. Um tipo que as revistas femininas enaltecem tanto e que fazem sucesso em festivais, como o de Sundance. Você sabe do que estou falando. São esses sujeitos que deixam para a mulher até a escolha do restaurante. E que colaboram para autoimolação da figura masculina. Bom, nesse caso, para interpretar tais personagens eu prefiro ficar como estou: morto.
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Mas eu acho que se fosse um remake em 3D do Tim Burton, com Jonny Depp, seria bem melhor.
ResponderExcluirPoxa, Bogart!
ResponderExcluirVocê é nosso herói, cara! Em quem nós, heterossexuais, nos espelharíamos? No Brad Pitt? Vixi Maria...
O melhor é Sam do Falcão Maltez e o Richard não acreditavam em vida no além, Bogarth: amém!
ResponderExcluirAh, caro Bogart, você se engana. Não se esqueça dos filmes do Dogma dinamarquês! Você seria um perfeito habitante de Dogville, p.ex.
ResponderExcluirsó é bom, mas vc faz falta !
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